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25 de Setembro de 2020

Há um Elefante na Sala – Game Changer

Os livros de História irão recordar 2020 como o ano em que esta pandemia trouxe um novo mundo.
Um mundo mais tecnológico e digital. Sabíamos, no fundo, que estávamos a crescer nesse sentido, achávamos era que faltava muito tempo, e nem tempo tínhamos para pensar nisso. Falou-se há 20 anos que em 2020 teríamos carros voadores e ainda ninguém tinha visto nada. Por isso, um vírus que nos ia deixar a todos em casa? Não nos passava pela cabeça tamanha barbaridade, mas é a realidade com que nos deparamos.

Uma realidade de mudanças na nossa forma de viver, trabalhar e aprender. Teletrabalho, telescola, teleconsulta, distanciamento social, máscaras e medidas de confinamento, tornaram-se parte da rotina, que muitos consideram o início de um “novo normal”. Até as empresas mais tradicionais e resistentes à mudança começaram a reconhecer que o teletrabalho tem vantagens, porque se viram obrigadas a testar o modelo. Começaram por estranhar, mas é algo que se está a entranhar. No desenvolvimento de competências e na formação, a realidade é semelhante. Se em 2019 a formação à distância correspondeu apenas a uma parcela do plano de formação do nosso tecido empresarial, não há dúvidas que a sua representação será bastante diferente a partir de agora.

O ano 2020 está e continuará (provavelmente), a ser um ano estranho, mas também, um ano de oportunidades para muitos.

Haja criatividade para ultrapassar todas as adversidades que este contexto instalou nas organizações.

E, particularmente para quem se considera um agente ativo no desenvolvimento de competências, vontade de arriscar e testar novos modelos e metodologias, para o envolvimento e formação dos colaboradores. Os muitos colaboradores que estão motivados para aprender. Sim, especialmente agora. Com uma vontade que resulta de uma mistura de tempo extra, desejo de se sentir envolvido e, também, preocupações com a segurança no seu emprego ou ambição de crescimento. Se agora não é a altura para refletir, aprender e crescer, quando é que será?
Desinvestir na formação do seu capital humano nesta altura, sob pena de contrariar a sua sede de desenvolvimento, preparará as organizações para quando emergirmos deste cenário?

Algumas organizações suspenderam os seus planos de formação por período indeterminado. Muitas arriscaram na formação à distância pela primeira vez, de forma síncrona ou assíncrona, por vezes munidos de resistências e crenças. Outras tantas abraçaram calorosamente estas metodologias, neste período em que se recomenda o distanciamento social. Os resultados e as experiências foram diversas, mas há um elefante na sala (que sendo virtual, podemos torná-lo tão grande quanto queremos): estávamos preparados para esta mudança de paradigma?

Não, não estávamos. Fomos obrigados a dar o salto do presencial para o online, de um minuto para o outro. As casas, as ligações de internet e os equipamentos dos participantes estavam preparados para a formação à distância?

Provavelmente, também não. E as ações que estavam planeadas foram desenhadas originalmente para o modelo à distância? Não, porque privilegiávamos a formação presencial. Com toda esta falta de preparação, torna-se fácil justificar e compreender que nem todas as experiências formativas à distância ministradas durante este período foram um mar de rosas. Mas as vantagens da formação à distância são evidentes e, ainda assim, muitas foram as ações de formação com elevado impacto realizadas neste período, de forma remota. E, com isso, o desenvolvimento de competências não foi obrigado a parar.

A verdade é que uma experiência de formação não é mais ou menos satisfatória por ser realizada remota ou presencialmente.

Cientes das condicionantes do passado, não tão distante do presente, reflitamos sobre o futuro: estaremos preparados para esta mudança de paradigma? Podemos estar. Se não voltarmos a correr para a nossa zona de conforto da formação presencial, assim que possível. Se não encararmos este período como uma fase passageira e sem impacto para o que vier a seguir. E, particularmente, se estivermos interessados em explorar novos horizontes de flexibilidade e acessibilidade na formação, com experiências igualmente impactantes, enriquecedoras e ajustadas às especificidades de todos os stakeholders.

Promover a melhor aprendizagem possível, independentemente do ambiente, é o desafio dos agentes responsáveis pela formação e educação.

Acreditar que sessões virtuais, quando bem planeadas e executadas, podem ter níveis elevados de concentração e envolvimento dos participantes, garantido o impacto pretendido, é uma necessidade. Reconhecer que os programas de formação não podem ser idênticos quando são ministrados em modalidades diferentes, dadas as suas especificidades, vantagens e obstáculos, é uma prioridade. Escolher a tecnologia que permite facilitar uma boa experiência de formação, é taticamente indispensável. Investir na pedagogia e não só em tecnologia (porque a tecnologia é apenas tecnologia), é o passo estratégico fundamental. Ter a humildade de aceitar que só descobriremos a fórmula testando (e falhando), é a atitude correta.

Não, não vamos ficar fechados para sempre em casa. A formação também não terá de ser ministrada remotamente para sempre. Mas aprendemos bastante durante este período e seria um desperdício não capitalizar este conhecimento no desenvolvimento futuro de ações de formação mais acessíveis, versáteis e enriquecedoras. Que venha deste malquisto vírus, a disrupção necessária para o maior salto qualitativo que podemos vir a dar no setor da formação.

 

Gabriel Augusto Galileu

Gabriel Augusto

Diretor Geral da FLAG
Artigo retirado da Edição Especial da Game Changer – Teletrabalho

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